quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Apócrifos, das cartas não enviadas: São e Salvo.

rhb,


"Drying up in conversation,
You will be the one who cannot talk
All your insides fall to pieces,
You just sit there wishing you could still make love
They're the ones who'll hate you
When you think you've got the world all sussed out
They're the ones who'll spit at you,
You will be the one screaming out."


Eu te perguntaria qual o seu medo se já não soubesse do seu medo de dar respostas. O que aconteceu? Você cresceu, meu bem. Você cresceu. Já não cabe nos esconderijos de antes. Pois se antes atrás da porta era o lugar mais seguro para se estar, hoje já esperamos atrás de cada porta encontrar um homem e atrás de cada homem encontrar um medo, enclausurado no entrecortinas.

Toda casa é guardada por um cão ou um desejo. Toda casa é impenetrável. Toda casa tem seus segredos, seus quartos proibidos. Mas você possui todas as chaves.Qual o quarto que você nunca ousou abrir?Nem mesmo quando era criança, nem mesmo quando aquele era o melhor lugar para esconder-se pois todos o temiam. Não te assustes. Não há nada de mais lá. Pode ser um quarto de guardar entulhos, suas roupas de recem-nascido. Ou deusas ancestrais. Quem sabe todos os seus mortos não estão lá, tomando um chá?

Então saia, vá para rua assistir os ônibus que não param para você. Esconda-se nos cinemas, dentro de copos transbordantes, no sexo rápido e nas músicas tristes. Fuja, esconda-se sob o lençol de estranhos, nas piadas forçadas, nos discursos acadêmicos. Depois sinta saudades de casa.


Corra, chore, bata na mancha e grite: 31, ninguém. Pronto, estará são e salvo. Mas não poderá evitar de ser o pegue na próxima rodada. É o preço que se paga por brincar sozinho de esconde-esconde. Abra a porta, deite na cama e encare o teto. Passe o domingo vendo sua pedra crescer. Quem sabe um dia você consiga esconder-se sob ela.


Enquanto isso, com o braço colado na parede, eu fecho os olhos e não choro. Conto até o infinito esperando que no final você possa finalmente dizer: "31, salve todos".




2 comentários:

Thalita, disse...

A casa, a infância... Acho que existe um pedaço da alma chamado assim: a casa da infância.

Muito delicadas as suas palavras, Lara. Ficou lindo. E ah, se funcionar for tocar alguém, funcionou demais comigo.

Juan Barreto disse...

texto muito , muito bom!
Minha pedra tá grande, o olho do dono é que engorda o gado.
A proposito..as pedras deviam ser o simbolo universal do amor..
pedras são pra sempre..
coraçoes sao feitos de carne e sua tendencia é de fato apodrecer