terça-feira, 12 de abril de 2005

conto INTER-minado

O corpinho estendido no chão rastejava na pálida luz da manhã.
Quanto a sua vida, bem, nada mais do que pequenos postulados de existência: Inspira, Expira, Inspira, Expira, Innnnnsipira, ex...
O resto? O resto ele tinha por mão alheias; era mais confortável e não lhe fazia falta o fantástico...Afinal, para criatura tão miserável o fantástico jazia esquálido no tempo (Passado! Que o tempo nunca é presente ou futuro. É sempre o que foi. E o que é agora já foi, e já foi, e...Opa, acabou de ir), e... O que dizia mesmo? Ah, Sim! O moleque...
Vivia aos trapos, e vivia como trapo - trapo...Que palavra estranha! TRA-PO...Tro-pa...Pra-To - não, é trapo mesmo! Porque prato lhe faltava, e tropa...Ah, essa era a que lhe fazia correeeeeeeeeeeeeeer. (Inspira, Expira, Inspira, Expira).
-Parasita! - Não, coitado!Apenas um rascunho que o mundo não passará a limpo...Um rabisco da sociedade (Sim! Aquele que é escondido, negado, ignorado) e só quando fosse obra completa poderia está por trás das grades.

Crime eu, crime tu, crime ELE... O crime é ELE! Mas antes dele vem o EU e o TU. eu calooooo...rr não é? Dia quente!E a cotação do dólar, como vai? Ah, claro, ligo depois sim...Mas e a escola, como está? É...Poisé...

(voltando) Como ele, tantas obras interminadas despertavam naquele dia no seu incansável INspira, EXpira, INspira, EXpira, INspira, EXpiral - diria eu da vida em outros tempos.

Ah, o moleque...Mas para quê falar dele? É tão incomodo e Clichê...Ele está em toda parte mesmo, me fazendo lembrar do que não fiz. Falar de mim, de ti, de nós... Fica incompleto! Mas ele sempre aparece, sempre! Ele sempre está ali, na esquina, e não se faz notável, pois a minha autoflagelação faz isso por ele e...

Acordava esperando a hora de dormir e a caridade de algum passante. Vivia assim até o dia em que o mundo decidisse jogar fora o tão inútil rascunho. Já não estendia a mão, a pena era dele...A pena era a que cada um sentia de si mesmo quando ali passava (tanta pena que esse homem moderno mais me parece uma galinha), e tal pena se materializava nalguma moeda... Realidade de duas faces! Mas sempre dava cara...Coroa é luxo para alguém que não pretendia nem existir. Que culpa tinha? Não...Nem CULPA tinha...Tinha N.A.D.A...E era esse nada dentro do estômago que ele costumava chamar de fome.



Larissa