sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Apócrifos, Das cartas não enviadas: Taxi

30 de abril de 2007.





Lá se foi você. (Denovo). Dobrou a esquina e seguiu num rumo que já não sei mais. O que sei é que tem areia entre meus dedos e esse sentimento tão raro, que não sabe ser escasso e que não cessa, decidiu fincar os pés aqui dentro de mim.

Único por não saber dizê-lo. Tento comparar, usar figuras de linguagem sempre tão batidas, tento dar nós em fios que sequer consigo segurar entre os dedos. Depois?

Depois continua aqui. Essa coisa imensa e sem nome que penso ser mar, se não fosse também terra firme (ou fofa, onde afundam meus pés). Que eu penso ser mar, se não fosse antes de todas as cores. Que eu penso ser mar, se já não fosse há muito (dentro de mim e maior que eu).

Lá se foi você dobrando a esquina, num carro estranho que tem uma plaquinha brilhante, onde com letras verdes está escrita uma palavra que em algum dialeto muito, muito antigo deve significar "arrancar pedaços".

Apócrifos, das cartas interminadas: Lençóis



e no fim...




Da minha janela posso ver uma nesga de céu laranja. Dizem que noites assim são noites de chuva, mas o vento que sopra é só frio e não me traz uma gota d'agua sequer.
Posso ouvir num ponto distante fora do meu quarto uma televisão ligada, sintonizada num daqueles programas de madrugada, e um silêncio se arrastando entre os casais que dividem a mesma cama. Falta-me o sono.
Me pergunto quantas pessoas estão, como eu agora, olhando o céu laranja que se abre em buracos cor de chumbo quando faltam nuvens.
Meus pés passeiam por entre os lençóis.
Deslumbra-me a pouca luz que cai sobre mim. Será que o céu é laranja porque reflete a luz dos postes? Se for assim, alimento o desejo de uma queda de energia. Só pra descobrir a verdadeira cor do céu. E ver as tais estrelas que a luz esconde.




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Nesses apócrifos colocarei trechos ou cartas inteiras não enviadas. Ou ainda textos não concluídos ou que mereciam a fogueira.



Qualquer Deja Vu é mera vontade do 'ter sido'.